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A propaganda e as campanhas publicitárias são a alavanca para chegar ao “estado canónico”. A originalidade e o conceito de beleza não são considerados.
A facilitação é uma realidade social, não somente literária. A sobrevivência passa pela venda, a venda passa por ir ao encontro do consumidor e este não quer ser importunado (excepto uma minoria). Criam-se e aplicam-se receitas, vendem-se livros. Se são canónicos ou não, é irrelevante; vendem-se como sabonetes. O consumidor sai limpinho, sem qualquer “nódoa negra”, sem qualquer marca do conflito que o texto, esse que desafia, nos deixa. Não há transformação, não há estranhamento. Há consumo.
O trabalho de percepção artística, que é complexo e difícil, não atrai toda a gente.
A actividade mental da percepção artística é substituída pela passividade do processo de percepção atalhado e reduzido. O receptor rejeita a novidade e quer o reconhecimento de algo em que possa sentir a projecção das suas atitudes e valores.
A cultura de massas, industrial, baseia-se neste princípio de “plug-and-play”. Acontece a tendência para sublinhar os aspectos recreativos da arte transformando-a em objecto com valor elevado de mercado, excluindo toda a espécie de esforço mental.
A educação adaptou-se; se ela visasse o desenvolvimento pessoal tornava-se antagónica a esta cultura comercial."
Mário Rufino