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Fev 14


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As Correntes d´Escritas são um regabofe neuronal. Chega a ser pornográfico. Imaginem a vossa biblioteca: muitos e diferentes livros reunidos no mesmo espaço. Agora imaginem as Correntes: muitos e tão diferentes autores reunidos na mesma sala. Centenas de livros dentro daquelas pessoas a conversarem sobre literatura com outras centenas de livros dentro de outras tantas pessoas.

Os meus neurónios estão em plena orgia literária.
É curioso saber que a capacidade de reedificar mundos está, principalmente, entregue a um Senhor já um pouco frágil fisicamente. Confesso-vos o meu pudor em falar com demiurgos da minha instrução. São gente, cheia de virtudes e defeitos, de quem eu leio as palavras recentes e antigas.
No entanto, também me lembro da vergonha por mim sentida quando vi Saramago. Não quis ir falar com ele e não fui. Arrependo-me.
Enquanto jantava, ontem, dei por mim a olhar para a mesa deste Professor, tão bem acompanhado por Lídia Jorge, e a pensar nas vidas que eu teria de viver para saber metade do que ele sabe. Hoje, dia 20, escrevo sobre a” Mesa” onde ele está presente. Refiro-me a Eduardo Lourenço.
Ontem à noite, ainda havia poucos escritores
Comentámos à chegada e ao jantar o texto de João Tordo. Atingiu o patamar de “viral”. O próprio autor está muito surpreendido.
As pessoas revêem-se nesse texto. Têm medo, opinam, e pensam na facilidade que é estar nessa situação. Partilha-se o texto, mas viral é o medo.
As minhas entrevistas estão preparadas. Aguardo por Ondjaki, José Ovejedo e Valério Romão.
Acordo ainda de madrugada para organizar o meu dia. Sou o primeiro a chegar para o pequeno-almoço. Primeiro ou segundo... não sei... relembrei-me de José Rentes de Carvalho.
Só ele consegue acordar mais cedo do que eu.
Regresso ao quarto, confiro o programa, agarro no caderno e na caneta, espero no “hall” - Rentes de Carvalho já lá está - e caço pormenores.
É um dia bom, o primeiro dia de Correntes. Muitos leitores (auditório esgotado para a conferência de Dr Adriano Moreira), muitos autores e muitos livros.
Manuel Jorge Marmelo ganhou o principal prémio. Já está. Acabou-se a expectativa e o dia limpa a tensão. Só a tensão, porque chove como sempre tem chovido.
É engraçado ver os autores desde estremunhados até à sonolência nocturna. Mas o importante acontece no meio, durante o dia: literatura.
Escrevo do ponto de onde observo. O vulgar acto de escolher uma cadeira para me sentar determina o que vejo. O texto é influenciado pelo meu ponto de observação. E eu escolhi observar, nas Correntes, a utilidade, a agradabilidade e a qualidade, tendo consciência de que o mais importante é o texto, por mais ou menos entrega do autor à simpatia.
Na Póvoa, durante alguns dias, nós - leitores - estamos dentro da Literatura.
Opto por escrever sobre a literatura, esse milagre da linguagem, dentro de outro milagre: As Correntes.
Rui Zink disse duas frases na abertura das “Correntes d`Escritas”, no Casino da Póvoa de Varzim, nas quais eu me revejo:
“Isto é um milagre” e “A qualidade fundamental da Póvoa é a bondade”.
Milagre, bondade, literatura. Uma belíssima trindade.
publicado por oplanetalivro às 10:58
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