Carregava algum peso dentro dos sacos. Por vezes, era obrigado a pousá-los para poder aliviar a sensação desconfortável que me marcava os dedos. Ia feliz apesar de cem em cem metros me interrogar sobre a insanidade que me fazia andar em vez de ir de metro.
Já no Saldanha, fui interrogado por uma situação para a qual ainda não tenho resposta.
Pousei os sacos recheados de livros e percebi que um grupo de pessoas se aglomerava junto à traseira de uma carrinha.
«Será que estão a dar livros ou outras ofertas?»,
pensei esquecendo-me de que já não estava no Parque Eduardo VII.
Retomei o meu caminho e passo a passo fui percebendo que algo era diferente. Nas mãos das pessoas, homens essencialmente, havia leves sacos de papel. Homens magros de tez escura, barba como teia a pender da face, retiravam alimentos desses sacos. Duas pessoas suplicavam comida a um rapaz aflito, que não podia dar mais do que aquela ração.
Os sacos castigavam os meus dedos, pesavam nas mãos, mas eu comecei a andar mais depressa, quase a correr, com medo de ser assaltado...
«Não fui de metro porque preciso de perder peso»,
lembrei-me.
Não consigo nem posso pensar-me como voz passiva deste estado. Antes, sinto-me a voz activa que fugiu e se demitiu...
MR